domingo, 9 de novembro de 2008

Cultura: CD do Vitória é um misto de pós-punk com karaoke

Anunciado com grande pompa, o primeiro CD oficial do Vitória é uma das mais marcantes obras musicais do ano. Não apenas porque tem o selo da AudioVeloso, uma marca top of mind quando se fala em qualidade artística, como pelo facto de ser uma manifesto de pós-modernidade. O CD oficial do Vitória mistura os cânticos debitados ao vivo pelos adeptos do clube com música gravada em estúdio. E isto afigura-se como um verdadeiro case study.
Misturar realidade e desenhos animados era moda nos início dos anos 90, em Hollywood, com filmes como "Quem tramou Roger Rabit". O Vitória demorou quase 20 anos a embarcar nesta onda, mas fá-lo com propriedade.
Além disso, a utilização dos cânticos dos vitorianos no estádio tem a genial novidade de utilizar mão-de-obra gratuita - alguém recebeu cachet por isso? - e ainda obrigar esses mesmos "operários" a pagarem para ouvir a sua masterpiece. Isto é uma das mais brilhantes estratégias financeiras da história, ao nível da invenção da escravatura, por volta de 135 a.c., e dos recibos verdes, em 1982.
Centremo-nos pois na vertente de estúdio desta magnífica peça musical. O disco do Vitória é um misto de pós-punk com karaoke. O ritmo dengoso e pachorrento - género Fajardo - em nada é consetâneo com a animação que se supõe estar associada ao apoio a uma equipa de futebol. Reside aqui um dos traços mais singulares desta obra. As músicas são tão lentas e apagadas que Ian Curtis parecia um rapaz hiperactivo e feliz da vida à beira dos senhores que fizeram este disco. Tudo isto com um toque de karaoke, conferido pelos sintetizadres Casio e a bateria digitalizada, que enformam cada música como um pedaço único da história das artes.

Avelino da Silva Guimarães*


*Colaborador do Azemel Vimaranense: Crítico literário, melómano e sócio da Muralha.

2 comentários:

Anónimo disse...

o azemel nunca viu imagens de um concerto do ian curti, poinão? é que o ian curtis era um bocadinho muito mais hiperactivo do que o azemel o pinta neste post. se me permite, recomendo-lhe uma youtubação pelo nome do lendário vocalista dos joy division. cumprimentos

Anónimo disse...

isto, claro, não desfazendo a genialidade do seu post, muito bem achado como é quase costume.